segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Rasbiscos da Morte.

A brisa fria da noite beija-me a face e os meus olhos avermelhados ardem em sinal de cansaço. O meu corpo febril deseja repousar sobre uma desconfortável cama de campanha envelhecida pelo tempo, herança do meu bisavô paterno, o Capitão José Targino Gonçalves Fialho, um luso farmacêutico, que no dia 15 de março do ano de 1893, mudou-se para o outro lado da vida. Foi sobre esta mesma cama, hoje empoeirada, que numa noite repleta de trovões, a misteriosa morte entregou-lhe um bilhete de passagem sem direito a regresso, ficando somente uma imensurável saudade como consolo. O processo da vida é dantescamente misterioso. O nascer é semelhante ao sol que surge lentamente a cada início de manhã. A morte é como um clarão de relâmpago que se mostra no céu e rapidamente apaga. E a insistente dor da saudade pode ser comparada aos pingos de uma forte chuva, onde todos bailam sob o som monótono de uma valsa triste. E o medo da morte? É superior a incerteza carregada no coração de quem não possui visão para contemplar o futuro e, desesperançado, mergulha sinistramente no lago ardente das paixões infames do presente, para fugir dos pesadelos do passado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário