segunda-feira, 29 de outubro de 2012

“Pão de Açúcar e a campanha de baixo nível rejeitada nas urnas”





Pão de Açúcar teve este ano a campanha política de nível mais baixo de toda a sua história. Apesar de eu não ter alcançado campanhas mais antigas, principalmente as realizadas nos idos dos anos de 1940 e 1950 (tenho escutado relatos), nenhuma delas foi tão agressiva como a realizada em 2012. E jamais poderei aqui afirmar que houve baixo nível bilateral, pois assim estarei cometendo uma grande injustiça.
Não fosse a era da informatização, onde a tecnologia sepulta conceitos e atos primitivos, eu aceitaria a convincente justificativa que “em política vale tudo”. Reconheço ter sido uma disputa acirrada entre dois líderes expressivos que, num passado bem recente, eram considerados amigos e aliados inseparáveis. Agora estão em lados opostos, inclusive um deles chegou a fazer até mesmo alianças políticas esdrúxulas – normalmente aceitáveis no mundo das negociações políticas – objetivando reascender ao poder. Aqui faço alusão ao pacto político entre duas famílias tradicionalmente inimigas – Rezende e Maia – mas que hoje estão aparentemente harmonizadas, apesar da grande resistência de alguns de seus membros mais conservadores. A fusão política pode não ter sido bem sucedida, mas na esfera da paz espiritual o ato tem relevância.
No processo legal de embate, foram formadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral duas coligações partidárias: “A Força do Trabalho” X “A Força do Povo”.    De um lado, de forma organizada e estratégica, a primeira coligação botou o bloco na rua sob a orientação profissional de um marqueteiro somada à habilidade, competência e credibilidade política do candidato majoritário Jorge Silva Dantas. Do outro lado, de forma extravagante, barulhenta, arrogante, amadora e desorganizada,  a segunda coligação não fez jus ao nome e tampouco foi eficiente para dobrar o adversário e conquistar a simpatia e a confiabilidade da população.
Durante todo o período de disputa o clima foi desrespeitoso e um quadro de agressividade ímpar foi ocupando o lugar de propostas que deixaram de ser apresentadas à população. No palanque da “Força do Povo” a baixaria, a calúnia e a difamação  foram materializadas, chegando, na reta final, a ser punida pela Justiça Eleitoral, pelas inverdades declaradas no horário político no rádio. Como se não bastasse, ameaças, violência, ódio e falácias tornaram-se o cardápio diário de uma coligação partidária que procurava desesperadamente reverter o quadro de rejeição e inverter os números não favoráveis apresentados pelas pesquisas eleitorais.
Não logrando êxito, este grupo aderiu à filosofia ultrapassada adotada durante a Segunda Guerra Mundial pelo então Ministro da Propaganda de Adolf Hitler na Alemanha Nazista, Joseph Goebbels: “Uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade”.
E assim, fundamentada em inverdades, a coligação polarizou seus ataques ao prefeito Jasson Gonçalves e ao candidato majoritário Jorge Dantas, por ser este último primo do gestor atual. Sobre a saraivada de críticas mentirosas miradas contra o atual prefeito, as obras construídas e espalhadas na cidade e no interior do Município, por si só desmascararam os agentes da inverdade, pois o prefeito Jasson pode não ter conseguido sucesso na gigantesca crise hospitalar que, aliás, é um problema vivido por todos os hospitais públicos brasileiros. E no tocante às demais áreas da Administração Pública Municipal, ele vem atuando excelentemente e ficará na história como um dos prefeitos que mais construíram obras importantes físicas e sociais em prol da população pão-de-açucarense, tendo conseguido dar destaque nacional à educação municipal segundo a avaliação do IDEB.   
E as afirmações falsas proferidas contra o candidato Jorge Dantas afundaram-se na areia movediça da difamação, pois sustentar que Jorge Dantas é um “ficha suja” é simplesmente admitir a própria incompetência da coligação adversária que não impugnou a sua candidatura a prefeito de Pão de Açúcar. E por que eles não a impugnaram? Porque não encontraram provas reais e argumentos verídicos para tirar de combate o iminente candidato vencedor.
Ora, Jorge Dantas teve a sua candidatura deferida pela Justiça Eleitoral porque não existe nada que desabone a sua conduta enquanto cidadão e político.  O fato de o mesmo ter sido acusado e preso não significa dizer que ele tenha sido culpado, pois a culpabilidade do acusado só passa a existir no momento em que a Justiça assim o considerar através de uma sentença condenatória transitada em julgado, fato que não aconteceu com Jorge Silva Dantas porque o Ministério Público, antes que o processo fizesse tramitação, não o denunciou. Pelo contrário, o inocentou, pois não encontrou nenhuma culpabilidade na sua pessoa, isto é, Jorge Dantas foi alvo de falsas acusações, com direito, por sinal, a ser reparado pela União, caso ele tenha impetrado uma ação indenizatória contra a União, obviamente dentro do prazo legal.
E sobre a sua prisão, quem no Brasil não corre diariamente o risco de ser preso sem que tenha cometido crime algum? Quem conhece o famoso “caso dos irmãos Naves”? Quem neste País está imune de ataques da mídia sensacionalista? Certamente Jorge Dantas não foi a primeira vítima. Ainda bem que o sistema processual penal brasileiro não é inquisitório, é acusatório!
Portanto, Jorge Dantas é ficha limpa e assumirá, a partir do dia 1º de janeiro de 2013, pela terceira vez, o mandato de prefeito do município de Pão de Açúcar, uma façanha antes realizada em Pão de Açúcar só pelo brilhante político Augusto de Freitas Machado.
Jorge, ao contrário do seu adversário, conseguiu apresentar um plano de governo com propostas inteligentes, inovadoras e desafiadoras. Foi por este motivo e pelo brilhante trabalho realizado no Município durante o período 1997 a 2004, quando esteve à frente do Executivo Municipal, que ele conseguiu conquistar a credibilidade da maioria esmagadora dos eleitores de Pão de Açúcar.
A tríade ética, decência e verdade são princípios preponderantes na vida de um político que tem como escopo trilhar pelo caminho do sucesso, pois com as propostas de políticas públicas surgidas nos dias modernos deixou de existir a cadeira cativa para os políticos soberbos e autoritários que preferem impor a “política do pão e circo” a ouvir os anseios do povo.  
E dentro deste contexto, Jorge Dantas possui o perfil do gestor público que no momento o Município precisa para resolver problemas considerados graves. Insofismavelmente foi este o motivo principal de sua vitória esmagadora nas urnas (7.539  contra 5.812 votos), o suficiente para impor uma derrota humilhante a três adversários fortíssimos que somaram força e prestígio para derrotá-lo nas eleições, mas a tentativa foi um fracasso – e agora eles tendem a mergulhar no ostracismo político porque Pão de Açúcar urge avançar – retroceder jamais!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Lendas e Mistérios do Sertão

O município de Pão de Açúcar foi rota do cangaço. Lampião, Maria Bonita, Corisco e muitos outros bandoleiros registram suas passagens em fazendas, sítios e povoados. Estudos afirmam que o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o temido Lampião, passou os últimos quatros da sua vida frequentando os municípios de Pão de Açúcar, Piranhas(em Alagoas), Canindé do São Francisco e Poço Redondo(em Sergipe).  Dentre os lugares frequentados por cangaceiros, em terras pão-de-açucarenses, destacam-se: Novo Gosto, Bom Nome, Emendadas, Meirus, Rua Nova, Bom Conselho, Mundo Novo, Santiago, Ilha do Ferro, Jacarezinho e outros. Nestas localidades eles recebiam a proteção de prósperos fazendeiros, influentes coiteiros do cangaço. E objetivando divulgar alguns episódios envolvendo os cangaceiros e outros personagens temidos no Sertão, tomo a iniciativa de lançar interativamente a série “Lendas e Mistérios do Sertão”. Iniciarei publicando cinco diferentes episódios do cangaço, narrados em livros de autores e pesquisadores. Os fatos estão organizados em cinco capítulos, assim distribuídos:
Capítulo I – Lampião ameaça invadir a cidade de Pão de Açúcar;
Capítulo II  –  Os cangaceiros em Novo Gosto e Bom Nome;
Capítulo III  –  Lampião chicoteia Adail Simas nas cercanias de Santiago
Capítulo IV – Joaquim Rezende tenta a conciliação entre Coronel Lucena e Lampião;
Capítulo V – Lampião e Corisco no Povoado Meirus.

Na sequência destacaremos histórias de lobisomem, nego d´água, caipora e outras figuras lendárias, narradas com convicção por pescadores, caçadores, agricultores, donas de casa e guardas noturnos, uma modesta contribuição para o resgate do rico folclore sertanejo e ribeirinho. 
Desde já, agradeço pelo acesso. Boa leitura!
Helio Silva Fialho
                               

Capítulo I
Lampião ameaça invadir a cidade de Pão de Açúcar

Para evidenciar um dos feitos do Tiro de Guerra nº 656, citarei sua atuação na primeira tentativa de ataque dos bandoleiros de Lampião a Pão de Açúcar.
Era uma tarde do mês de janeiro de 1927, quando chegaram a Pão de Açúcar as primeiras notícias telegráficas, recebidas pelo abnegado telegrafista Arthur Pais de Azevedo, da penetração do grupo de facínoras na fronteira do Estado de Alagoas, com um contingente, mais ou menos, de 120 (cento e vinte) homens, marchando com destino ao município de Pão de Açúcar.
O prefeito do município, Manoel Pereira Filho (Manoelzinho Pereira),ao receber a notícia, dirigiu-se ao presidente do Tiro de Guerra nº 656, para ele obter o apoio no sentido de organizar-se a resistência, a fim de evitar que a cidade fosse invadida pelos bandoleiros. O Presidente na época era o Profº Antonio de Freitas Machado, que logo entrou em contato com o sargento Brabo, um inteligente nordestino, mas duro como madeira de lei, que, cientificado da ocorrência, imediatamente ordenou a Francisco Ferreira (Mestre Chico) que executasse o toque de reunir, em tom acelerado.
Em pouco tempo a sede do Tiro achava-se lotada de atiradores e voluntários. Depois o sargento ordenou a Dionísio Ignácio de Barros(responsável pelo armamento) que fizesse a distribuição de armas e munições ali existentes, a todos. Assumiu o comando da resistência, organizando patrulha de reconhecimento, distribuindo-as nas adjacências da cidade. Organizou também trincheiras com fardos de algodão eletrificadas nas entradas principais da cidade, como seja: Tapajinha, Campo Grande e Barra de D. Maria Jesuína.
É de salientar que uma dessas patrulhas em sua ação de reconhecimento, nas primeiras horas, apresentou serviço, detendo um indivíduo de tez branca e cabelos louros, para averiguação, por considerá-lo um suposto espião a serviço do chefe do grupo de cangaceiros. Ao ser submetido a um interrogatório, articulava as palavras com muita dificuldade, não se sabe se esse comportamento dele era por conveniência ou por se encontrar em estado de debilidade mental. O certo é que o mesmo ficou detido na sede do Tiro de Guerra nº 656 por vários dias, sendo posto em liberdade, depois que o grupo se afastou do município.
Depois dessas medidas de segurança, começou a evacuação das famílias para o Estado de Sergipe, pois nesta altura dos acontecimentos o grupo de bandoleiros de 120(cento e vinte) homens marchava sobre Pão de Açúcar, saqueando, incendiando, enfim, fazendo toda a espécie de misérias. Chegou a aproximar-se da cidade, detendo-se nas fazendas Bom Conselho(propriedade do Sr. Luiz Gonzaga – Gonzagão), e Mundo Novo(propriedade do Sr. Luiz Henrique), sendo que nesta última os componentes do grupo seviciaram a administradora da fazenda, uma senhora conhecida como “Jovina de Seu Manoel Henrique”. Aí permaneceram, comm a finalidade de se certificarem da existência ou não de alguma resistência organizada na cidade.
Entrementes, o “capitão” Virgulino Ferreira da Silva(Lampião) mandava um emissário(“Seu Vidal”, vaqueiro da fazenda Bom Conselho) à cidade, com duas cartas – uma para o Sr. Luiz Gonzaga(Gozagão) e outra ao Sr. Manoel Henrique, exigindo de cada um a importância de 4.000$000(quatro contos de réis), com a condição de que, se por acaso se recusassem de enviar a importância solicitada, seria fuzilado todo o gado, que para tal, já se achava reunido no pátio, - e incendiada as instalações das duas fazendas, como aconteceu.   
Nesta ocasião, entrou em evidência a célebre carta, que foi escrita no balcão da casa comercial de “Sia Marica” de “Seu Luiz Paulo”, redigida pelos senhores Mário Soares Vieira, José Alves Feitosa (Juca) e Manoel Campos, em que um de seus trechos tinha o teor seguinte: “se quisesse tirar raça de homem valente, mandasse a mãe dele aqui para Pão de Açúcar”. Esses senhores, impulsionados pelo ardor do amor à terra, fizeram com que o “Seu Vidal” entregasse a carta ao chefe do grupo de bandoleiros, que em expectativa aguardava a resposta da importância solicitada.
Lampião, ao receber as respostas negativas da referida importância e a carta enviada por Mário Soares Vieira, José Alves Feitosa (Juca) e Manoel Campos, ficou verdadeiramente furioso, e parte para dar vazão a sua cólera, autorizou o fuzilamento de todo o gado de ambas as fazendas, sadicamente com uma observação, no sentido de atirar no olho do animal, quem acertasse na pestana errava. E em revide à carta, que achou provocadora, ordenou aos seus comandados que se preparassem para atacar Pão de Açúcar ao anoitecer.
Entretanto, antes de consumar-se tal ataque, Lampião fez uma consulta ao seu advinho, o cangaceiro conhecido com a alcunha de “Pai Velho”, que previa as cousas boas e más para o grupo, e o mesmo foi notório na sua resposta, aconselhando-o a não tomar tal atitude, pois se assim fizesse, teria o mesmo resultado trágico que obteve em Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte, onde foram mortos os temíveis bandoleiros Jararaca, Colchete e outros que foram aprisionados.
Diante da peremptória resposta de “Pai Velho”, o comandante do grupo se absteve do seu intento de invadir Pão de Açúcar, como havia ordenado minuto antes, apesar das insistências dos cangaceiros Sabino, Volta Seca, Alvoredo e Antonio Ferreira(este último, seu irmão e lugar-tenente).
Os jovens e bravos atiradores, juntamente com alguns voluntários, ao lado do seu instrutor, permaneceram na dura expectativa de dez a quinze dias, à espera do momento da luta que se iria travar, em defesa do patrimônio e da honra da família pão-de-açucarense que se achava ameaçada.
Embora não se consumasse a luta fratricida que era de se esperar, deu-se um acidente de lamentável consequência que redundou na morte de “João de Manoel José”. Este, ao acionar a alavanca do ferrolho do seu fuzil, levou o cartucho à câmara, e ao desfazer o movimento, houve uma pane, que apesar dos esforços por ele empregados, para retirá-la, não conseguiu. Diante disso, irritou-se, batendo com a solteira do fuzil no chão, cujo choque fez com que o cartucho explodisse, rebentando a caixa da culatra, e os estilhaços desprendidos penetraram no seu abdome, causando-lhe uma hemorragia  interna, falecendo minutos após.
Deste trágico episódio só resta deixar aqui registrado um voto de enaltecimento à pessoa de “João de Manoel José”, que, como voluntário, tombou para sempre, no ensejo em que se preparava ao lado dos atiradores, para defender a terra em que nasceu.
Ao então sargento José Ferreira Brabo, atiradores e voluntários acima relacionados nominalmente, e que ainda vivem, rendo aqui um preito de gratidão, pelo desprendimento, bravura e altivez, com que se portaram no momento em que um grupo de facínoras tentava violentar o altar sagrado da família pão-de-açucarense, erguido pelos nossos antepassados. E à memória dos que já morreram, a eles, prestamos também uma homenagem póstuma.
(Texto extraído do livro “Um Lugar no Passado”, do autor Gervásio F. dos Santos, p. 52 a 56, transcrito na íntegra).